Pesquisar este blog

sábado, 29 de maio de 2010

Em cena: Eduarso Silva, o cara de muitos rostos


Segue a entrevista com o ímpar Eduardo Silva, o Edu. Além de um grande amigo, pessoa, com fortíssimas raízes na cultura afro-urbana, um excelente profissional. Quer queira, quer não, uma referência para nós irmãos pretos!

Por Antonio Bernardo Araújo Jr.
Durante a entrevista ouvíamos a ‘abrasileirada’ Leni Andrade (por escolha dele) e Chico Buarque (escolha minha), Cd’s retirados de uma gaveta organizados em ordem alfabética. Descontraído, bem humorado e versátil o ator, diretor, apresentador, cantor, músico e ex-professor de biologia Eduardo Silva, 45 anos, 31 de profissão, comentou de primeira: “Não sei o que sou. Para alguns sempre fui o ‘nego doce’. Busquei minha negritude com o tempo, afinal não jogava bola como a maioria do pessoal de minha idade, não jogava capoeira, na época não era macumbeiro, e, só posteriormente virei um sambista. Além disso, tive oportunidades que ainda hoje algumas pessoas não têm desde cedo, entendeu?”

Deparei-me com uma pessoa que fala com propriedade. Um grande artista, ou como ele mesmo se demonstrou: ‘uma fusão ou confusão de pessoa com arte’. Um homem definitivamente expressivo, metódico e bem humorado. Sensações brotaram no decorrer da entrevista, entre elas a de irmandade. O que era uma matéria, no entanto, virou uma conversa descontraída, uma troca de idéias e, Eduardo não escondeu pontos de defeitos através das palavras, gestos expressivos e receio em apresentar sua particularidade.
Conheça um pouco desse figuraça.

Antonio Bernardo: Você é de São Paulo, certo? Como foi sua infância e sua formação?
Eduardo: Isso. Sou de São Paulo. Fui educado por minha madrinha, Dona Olga, uma descendente de italiano bem rígida. Estudei na escola pública Caetano de Campos, um colégio modelo no Centro de SP. Para eu poder entrar minha madrinha teve que fazer um verdadeiro barraco porque não era comum aceitar um negrinho pra estudar lá. A diretora tentou barrar minha matrícula alegando não haver vagas.
Quando concluí o colégio, em 82 fui orador da turma, e como se fosse hoje, recordo de minha madrinha falar para a diretora, a mesma que tentou me boicotar no primário: “A senhora lembra do que me disse desse menino em 71? Pois, é.’’
Também fiz cursinho e ingressei na Universidade de São Paulo em 83.

E sobre sua família?
Não conheci meu pai. Tenho dois irmãos. Minha mãe era muito bonita e cobiçada, mas tinha uma vida bem agitada e, também, uma boca dura. A Dona Olga cuidou muito bem de mim e apesar de ela ser racista, comigo não tinha problemas do tipo. Faleceu com 86 anos e ainda virgem. Imagina uma senhora com essa idade, do jeito que ela era e ainda sem conhecer sexo. Não a culpo por ser tão severa [risos]. Mas a família quem dá uma estrutura de postura religiosa, social e responsável.

Eu percebo que você é bem saudoso ao falar da família. Sua mãe ou sua madrasta mora contigo?
Não. Moro sozinho. Ambas faleceram em 2003

Você também além de ator é professor. Como foi sua trajetória lecionando?
Comecei a dar aulas para melhorar meu orçamento e garantir meu futuro. Dei aula em cursinhos pré-vestibulares. Foram cinco anos no Colégio e cursinho Objetivo e dez no Anglo. Quando comecei foi uma polêmica nas instituições. Os outros professores se incomodavam com meu progresso em tão pouco tempo. Imagine o pensamento dos demais professores: - o negrão chegou agora e já está com as turmas que em dez anos eu não peguei – havia muito ciúmes. Daí a desculpa era que eu era ator e pra dar aulas eu atuava em sala de aula. Mas aluno tem senso crítico, não há a possibilidade de ficar interpretando por muito tempo, eles iam perceber e ver que era uma enganação. Ser ator ajuda, mas nada substitui a aula de biologia. Também incomodava os alunos com várias questões. Numa aula de digestão, por exemplo, um conteúdo complicado, começava falando de enzimas digestivas, ia para digestão, nutrição, alimentação, falta de alimentação, fome, famintos e terminava discutindo sobre a pobreza. Sempre dava uma cutucada com um papo-cabeça pra finalizar.
Então você levanta uma bandeira de questões e políticas sociais?
Claro. Esse assunto deve ser discutido de verdade. Até mesmo individualmente. Nós, pessoas devemos ser de fato melhoradas em vários pontos e confesso que lecionando ganhei um enorme conhecimento de vida.

Temos uma variedade de problemas com a população negra. Qual a possível solução para a valorização dos afros-descendentes na sociedade?
Não adianta, tem que estudar. Quando você estuda os caras já não te respeitam. Vejo nos estudos uma possibilidade de sobrevivência para a negrada. Falo isso para os amigos, para as pessoas da minha família. Temos que entrar na academia.

Mas entre o ainda infeliz perfil da maioria dos negros no Brasil você se acha exceção?
Nem pensar. O que é exceção? Quando o cara é negro pobre, não rouba, não se marginaliza, não vira fruto do crime ele que ele tem que ser visto como uma exceção. Na prática ele que é o normalzinho de toda a droga da história, que é a exceção. Eu não sou exceção.

E como você se tornou ator?
Com seis anos já fazia alguns trabalhos como ator, mas todos esporádicos. Comecei com uma pessoa me vendo na rua e achando que eu era um gordinho interessante. Fui convidado para participar do programa do Moacir Franco e posteriormente participei e fui aprovado em uma seleção no SBT. Em 78 fiz minha primeira novela, Solar Paraíso, estava então com 14 anos.

Qual sua preferência tevê ou teatro?
Os dois. Ambos são bons, mas a Tevê te dá uma visibilidade em um espaço curto de tempo.

Impossível não perguntar: como é ser intitulado como o sucessor do mineiro Sebastião Bernardes de Souza Prates, o Grande Otelo?
Orgulho... É isso que eu sinto. Só não quero morrer como ele. O cara era fantástico, intuitivo, já eu sou um técnico.Um dia foi convidado para receber mais um dos muitos prêmios pelo Sérgio Mamberti e respondeu: É um prazer, mas eu já tenho tantos troféus. Do que adianta tanto troféu se não tenho nem dinheiro pra comer. Mesmo assim viajou para França para tal evento e morreu no aeroporto - então é complicado terminar numa situação dessa. Também tenho muitos prêmios, mas quero ser valorizado, recompensado com o que faço e reconhecido pela qualidade do meu trabalho. Nos Estados Unidos têm muitos problemas, mas o artista é bem pago pelo trabalho que realiza e ponto final, o que é visivelmente diferente aqui no Brasil.

Mas tem algum trabalho que você ainda não realizou?
Não posso dizer que como ator tenho algo a desejar, fiz muitos trabalhos. O problema é que têm vários trabalhos não conhecidos, entre eles alguns infantis. Sou realizado como ator

E os futuros projetos?
Estou em um momento diferente de minha carreira. Não devo esperar ninguém me chamar. Estou produzindo. Já em projeto tem uma obra com atores negros, na correria com a formação de elenco, um musical envolvendo o samba. Também estou trabalhando em uma agenda de palestras com jovens de 11 a 13 anos nas escolas e estou atuando em breve uma nova temporada de ‘Os Campos de Piratininga’ um musical extraordinário que conta a história da cidade de são Paulo e do futebol. É isso.

Eduardo defina pra gente...
Homosexualismo - Genético
Sexo - O tripé de qualquer relacionamento
Dinheiro - Mal necessário
Droga - Seria boa caso não provocasse dependência
Polícia - Vítimas que se acham poderosas
Família - Alicerce fundamental, mas hoje não priorizado como se deveria
Conflitos internos - Compulsão, bipolaridade e sou muito intenso em tudo que faço
Olga - Uma baita mãezona de caráter
Moacir Franco - Sempre que precisei me acolheu
Defeito - Atraso
Amor - Está em falta
Imprensa - Têm de todos os tipos
Música - Barco que me faz navegar. Forma de falar de amor



terça-feira, 25 de maio de 2010

Amante

Segue mais uma poesia
Nós homens, ainda, envoltos de sentimentos, vontades, desejos e vinganças... Enfim espero que gostem
_____________________________________________________________________________



A negra pele tem de bom tom.
Recoberta, cheia de luz e cor.
Boca pintada a suave batom
Cobre o sorriso que sara minha dor.


Cabelo que diz,
Olhar que escraviza.
Jeitinho menina que quer ser feliz,
Voz de mulher que me hipnotiza.

Lamentos? Sei que ela sorri
Sorrisos? Sei também que ela chora,
Vontade? Faz tudo isso de longe
Levando o que é meu embora.

Pára de deixar pra depois,
Pára de ser preguiçosa.
Não quero que esqueça o passado
Quero começar uma nova história.

Ruptura. Vida, amor, vontade.
Respeito. Desejo, ascensão, liberdade.
Postura. Devaneio e loucura em prol
De delícias.
Que delícia É esse amor natural.

Mulher, chega de rima numérica.
Chega de prosa.
Quero algo absurdo, desigual.
Com ou sem rosa.
Quer ficar aí? Não fique!
Vem pra cá
Mas Se um dia vier...
Cuidado, meu amor pode matar.

Está em duvida, estranha... Ame.
Ame com amor
Mas saiba que o amor também faz chorar.

Não te vejo já desde sempre
Não te toco já tem uma eternidade
Não ouço sua voz com freqüência
Não expresso toda minha verdade.

Cada minuto é um tempo
Um tempo que se perde, se passa.
Ainda adoeço,
Pois minha saudade se torna minha raiva.

Ai dos poetas que ainda sofrem
Sofrem dos mesmos males.
Anátema a mulher que vive
Vive mas não entende
Não sabe pra que nasce.

Mulher nasceu pra ser amada.
Mas amada com coragem.
Nasceu também pra dar amor
Por que senão, nem adianta, não vale.


Seja eu ressuscitado por você
Por que já padeço,
Aliás, já morri.
Morri por não ter você.

Quando vivo, era sem graça
Não a conhecia.
Quando te vi,
Aí sim entendi... percebi o que é vida.

Mas logo em seguida, também já morri.
E morro mais a cada dia,
Por que nunca a tive
Mas enxergo que bom que seria.

Desse lado não tem luz
Não vejo o que a religião me prometeu
Eu tenho agonia
Meu Deus, quem sou eu?

Não tive funeral
Nada de epitáfio nem sarcófago.
Começo falando de amor
E termino falando em ódio

Consolo eu não quero.
Sofrer é meu martírio
Ruína é minha casa
Escrever é meu castigo.